Memórias de Americana 3z3kr
João de Castro Gonçalves: dândi, popular e controverso 4t1w37
Neste março dos 141 anos de seu nascimento, homenageio Castro Gonçalves, aquele que foi conhecido como um dos homens mais gentis de seu tempo
Por André Maia Alves da Silva*
23 de março de 2025, às 07h54
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“Não temos outro modo para demonstrar nossa gratidão ao ilustre facultativo dr. Castro Gonçalves, si não tornar público o zelo e o carinho, como médico e cavalheiro, com que tratou de nossa extremosa mãe e sogra, seja no minorar as grandes dores físicas, seja no conforto das palavras carinhosas…”
Declarações comovidas de agradecimento como esta, da família Possenti, publicadas no jornal “O Município” em 5 de agosto de 1928, tornaram-se comuns a partir da década de 1920. Mas Castro Gonçalves não era aclamado apenas pelas classes abastadas, o seu consultório já havia se tornado conhecido como o S. O. S. dos pobres, onde, mesmo sem dinheiro, todos eram atendidos.
Após a Constituição de 1934 e a volta das eleições, Castro Gonçalves é eleito vereador e exerce seu mandato como vice-presidente de 23 de maio de 1936 a 10 de novembro de 1937, quando Getúlio Vargas revoga a Constituição e fecha o legislativo brasileiro.
Após dezessete anos clinicando na cidade, o médico foi responsável pela primeira grande manifestação política em Americana. No dia 11 de dezembro de 1941, a Avenida Antônio Lobo foi tomada por um verdadeiro mar de gente. De fato, o movimento a procura de um bom lugar à frente da estação já havia começado em torno das 18 horas. Tinha sido anunciada a chegada, no trem das 19h40, do dr. João de Castro Gonçalves, vindo da capital investido pelo governador como o novo prefeito municipal.
Mas, ao longo de sua trajetória profissional e política também angariou ferrenhos inimigos. Por anos, foi combatido em artigos de jornal e ganhou demandas judiciais que moveu sobre calúnias a seu respeito. Grande orador e escritor contumaz de colunas para jornais, versou sobre medicina, legislação e poesia.
Durante pouco mais de cinco anos que ou à frente da prefeitura como prefeito nomeado, soube utilizar ao máximo seu grande prestígio junto aos interventores do estado daquele período, trazendo recursos e realizando importantes obras. Feitos estes que ele habilmente divulgou semanalmente em jornais, escrevendo sempre em tom direto com o leitor. Ao deixar o Executivo em março de 1947, cria outro ineditismo na política: lança uma revista com todas as realizações de sua istração.
Esta istração, como todo o período do Estado Novo, é repleta de contradições. Realizou obras de infraestrutura e sociais como a rede de água, a primeira caixa d´água, pontes, escolas e o Hospital São Francisco. Mas foi também um grande expoente desta estética estado-novista da “reconstrução, do espetáculo, do belo e do novo homem”. A cidade ganhou praças e iluminações luxuosas, avenidas foram revitalizadas e alargadas, o cemitério municipal ganhou um ostentoso portal.
No aniversário do segundo ano de governo, em um evento digno de ser chamado de “estetização da política”, a remodelação urbanística da Praça Comendador Muller e o novo Paço Municipal são inaugurados na noite de 17 de dezembro de 1943, quando os novos “120 focos de luz” são acesos, causando furor nas duas mil pessoas presentes e que visitaram as dependências da nova sede do governo.
Neste março dos 141 anos de seu nascimento, homenageio Castro Gonçalves, aquele que foi conhecido como um dos homens mais gentis de seu tempo. É este homem elegante e popular que é derrotado na controversa eleição de 1947, mas este assunto trataremos em outro momento. Por ora, aguardo o contato de quem tiver alguma história para contar sobre Castro Gonçalves.
*André Maia Alves da Silva é historiador e presidente do Instituto 12 de Novembro
Fale com o instituto: contato@12denovembro.com.br
A história da cidade, que completa 150 anos em 2024, contada em textos produzidos pelo Instituto 12 de Novembro. Publicações quinzenais, aos domingos