O ano começa com um aguardado lançamento para os fãs de Elena Ferrante. “As Margens e o Ditado” é o novo livro de não-ficção da escritora italiana mais conceituada (e vendida) da atualidade. A obra foi lançada pela editora Intrínseca.

Apesar de falar dos conflitos e dificuldades do escritor em captar a verdade por meio das palavras, entendo que este é um livro interessante, principalmente para quem já conhece ao menos parte das obras anteriores da escritora, já que muitas reflexões se voltam para esses livros.

“As Margens e o Ditado” é composto por quatro textos, três deles escritos como palestras e um deles para um ensaio. O que mais me agradou foi o primeiro, “A Caneta e a Pena”, onde Ferrante conta que vive uma disputa entre a autora aquiescente e a autora impetuosa. Mais para frente, ela revela que esse conflito está presente na relação entre as protagonistas da “Tetralogia Napolitana”, Lenù e Lila, ressignificando essa história.

A escritora faz um percurso por suas leituras e o repertório onde refletiu sobre o ato de escrever, como Emily Dickinson, Gertrude Stein, Danto Alighieri e Virginia Woolf. E é interessante pensar que ela encerra um dos textos exortando as mulheres a escreverem, assim como Woolf faz no encerramento de “Um teto todo seu”.

O nome de Elena Ferrante é exaustivamente envolto em mistério, já que a identidade real da escritora italiana segue não revelado. Muitas hipóteses foram levantadas, mas a autora segue em silêncio. Contudo, por mais que isso alimente certa polêmica, a minha sensação é que a autora é extremamente ível.

Tanto em “Frantumaglia”, livro anterior onde ela reúne correspondências e entrevistas, quanto em seu novo livro, a autora revela seu processo de escrita e desnuda camadas de seus romances. Acho que nunca me senti tão próxima de um escritor que iro e nunca tive a oportunidade de ler tantas explicações, significados, símbolos e processos. Tudo que se precisa de Elena Ferrante está, realmente, em seus livros. E cada página deles vale a pena.