Memórias de Americana 3z3kr
O assassinato da Rua Coronel Bento Bicudo 606c64
Como entender tamanha tragédia que envolveu pessoas tão conhecidas e ocupantes de cargos importantes naquele povoado de cerca de dez mil habitantes, na década de 1920?
Por André Maia Alves da Silva*
06 de abril de 2025, às 09h50
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Silvino era casado com Olympia, que amava Cândido, que era casado com Delmira e foi morto por José, que era irmão de Silvino e de Delmira, que, depois, se casou com Flávio. Esta é a ciranda que por muitos anos habitou o imaginário e preencheu conversas das pessoas do Distrito de Paz de Villa Americana e do município de Campinas. O assunto era o assassinato do médico e subprefeito Cândido Cruz.
Todos queriam entender os motivos de tal crime. Muitos conjecturavam e muitas versões ainda hoje são contadas. Como entender tamanha tragédia que envolveu pessoas tão conhecidas e ocupantes de cargos importantes naquele povoado de cerca de 10 mil habitantes, na década de 1920?
José Augusto de Oliveira, musicista e iniciador da carreira de Germano Benencase, era irmão dos professores Silvino José de Oliveira e Delmira de Oliveira e cunhado da professora Olympia Barth de Oliveira e de Cândido Cruz. Silvino havia chegado a Villa Americana em 1902, quando começou a lecionar e ficou conhecido como primoroso músico. Juntamente com sua esposa, fundou o jornal “O Combate”, “através do qual defendia os pobres e combatia as injustiças”. Sua irmã Delmira logo fez fama por conseguir alfabetizar crianças em curto espaço de tempo.
Segundo jornais da época, “às dez horas da manhã de 12 de fevereiro de 1921, José de Oliveira desembarcou do trem da Paulista, no Distrito de Paz de Villa Americana, e seguiu para o Cemitério Municipal da Saudade para visitar o jazigo de sua mãe”. Depois, dirigiu-se ao empório de secos e molhados de Florindo Cibin, localizado na Rua Coronel Bento Bicudo (atual Rua 12 de Novembro), a fim de reencontrar seu amigo, filho do comerciante.
Ainda segundo jornais, pouco tempo depois, e sem saber da presença de José, Cândido dirigiu-se ao empório de Cibin e, ao encontrar seu cunhado, recebe cinco tiros à queima-roupa e morre no local. Foram dias de noticiários e luto oficial decretado pelo prefeito de Campinas, Raphael de Andrade Duarte.
Preso em flagrante e com julgamento marcado em poucos meses, José de Oliveira é condenado a seis anos de prisão. Hoje, somente os autos do processo podem nos dar indícios deste assassinato. Os depoimentos de José podem esclarecer o que todos acreditavam ser um crime ional, ainda mais por ter recebido uma pena reduzida.
Villa Americana seguiu sua vida e logo após o crime, em 12 de novembro de 1924, é elevada a município. Além de lecionar, Silvino montou quatro bandas e alcançou fama estadual com a “Lyra Municipal”. Faleceu aos 82 anos, em 3 de outubro de 1956. A escola estadual do bairro Cordenonsi recebe seu nome pelo decreto 30.965, de 13 de fevereiro de 1958.
Olympia lecionou no Grupo Escolar “Dr. Heitor Penteado” e também na alfabetização de adultos, aposentou-se em 1938 e faleceu aos 81 anos, em 14 de agosto de 1966. Em março de 1970, a escola estadual do bairro Jardim Ipiranga recebe seu nome.
Delmira casou-se com o funcionário de seu falecido marido, o mineiro Flávio Lopes. Ela continuou a lecionar e participou ativamente das questões públicas de nosso município. Faleceu em 14 de agosto de 1960, aos 76 anos. A escola estadual do bairro Mathiensen recebe seu nome e possui um hino a sua patrona. Hoje, em seu singelo jazigo, no Cemitério da Saudade, descansa entre seus dois maridos.
*André Maia Alves da Silva é historiador e presidente do Instituto 12 de Novembro
Fale com o instituto: contato@12denovembro.com.br
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A história da cidade, que completa 150 anos em 2024, contada em textos produzidos pelo Instituto 12 de Novembro. Publicações quinzenais, aos domingos